far out

26 de abril de 2008

vemo-nos no entroncamento

olho para o dia 25 e vejo os puppeteers exibindo a revolução de há 34 anos como se fosse algo que lhes interessa.

há 34 anos vivia-se de facto uma transformação do que significava ser cidadão. hoje, essa transformação - essencial para que este texto seja divulgado -, não foi continuada nem concluída, pois trata-se de um processo permanente. um processo que, no país dos cravos, é lento e vexatório, algo que não incomoda o seu povo lacónico, inerte e preguiçoso.

há 34 anos a vida mudou para os meus pais e para mim, criatura pequena, sem memória nem espírito. mas hoje, a frustração com os contemporâneos de ontem e de hoje é tal que, para mim, as festividades oficiais, umas e as outras assim-assim, do 24 de abril de 1974 são qualquer coisa como uma senhora usar o seu anel de diamantes numa festa de caridade para pobres ou um senhor levar o seu porshe para uma reunião de citroën 2CV.

os puppeteers são hipócritas. mas os puppetteers, ainda assim, têm melhor memória que o povinho - povão em brasileiro. o povinho não tem uma relação com o 25 de abril de uma forma biúnivoca. o povinho reclama da revolução de 25 de abril de 1974 as fórmulas anunciadas, mas que não chegaram à prateleira do seu supermercado. o povinho não contribui para a transformação cívica e social. o povinho reclama a liberdade, garante constitucional que a revolução trouxe e que a minha geração despreza e que a geração posterior ignora. a minha geração está agora à espera de uma outra revolução, talvez uma parecida com a loucura do Vasquinho ao duplicar salários, claro que espera sentada e a cumprir horários 9h-17h e folgas ao fim de semana, picando o ponto à hora certa e produzindo o equivalente a qualquer coisa que impeça um despedimento ou uma má avaliação... algo que permita um contrato de efectividade, regulado pela simpatia de um sistema cumplice da preguiça e da esperteza saloia.

ontem, no dia 25 de abril, muitos comemoraram a liberdade que a revolução trouxe, mas esquecem-se da responsabilidade que têm enquanto cidadãos para com um país que são capazes de dizer seu, de lhe chamarem pátria e de foderem os cornos de um gajo por causa do futebol, mas o país não é o futebol. o futebol é a espuma de um mijo. o país é esse buraco que lhes oferece salários de merda. o país são os seus cidadãos.

ontem, no dia 25 de abril de 2008, muita gente teve a alegria em anunciar-se livre. mas o que é a liberdade, se não for acompanhada de equilíbrio e respeito por evolução social do todo dos cidadãos?

eu tenho nojo de trabalhar com pessoas que ganham o mesmo que eu e fazem um cem avos do que eu faço. eu tenho nojo de trabalhar para pessoas que permitem que hajam pessoas como as anteriores. isto não é obra do 25 de abril de 1974. isto é obra de um povo que mais livre ou menos livre contínua igual a si próprio. que agora reclama abertamente o que antes anunciava entre-dentes, mas não se mexe para ajudar a que as coisas mudem. e deseja um paizinho na sua vida como o Oliveira o pretendeu ser.

olho à volta e tudo é um queixume inerte. e, hoje, a revolução de 25 de abril de 1974, fica bem na montra da vida, qual acção politicamente correcta, vazia de significado, vazia de presente, vazia de luta.


p.s. - o coitado do jovem deputado centrista ainda não percebeu que acertos da história não são a mesma coisa que mudanças da história? para ele, que acha que deveríamos comemorar a liberdade a 25 de novembro, eu aconselho a repensar a sua vontade, pois se calhar foi a última revisão constitucional que nos trouxe a liberdade. essa que o coitado usa para ter a possibilidade de ejacular a quantidade abismal de palavras estéreis que lhe saem da boca.

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